quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

To Curtis

Escrever sobre Curtis Mayfield não é tarefa simples...



Não se trata apenas da música brilhante que ele produziu em seus quase 40 anos de carreira, mas também do papel fundamental que ele exerceu sobre as questões sociais e políticas no mundo, mas principalmente nos EUA na flamejante década de 60.


Curtis Mayfield começou a carreira do lado do grupo “The Impressions” no final dos anos 50. Debutou no mundo fonográfico em 1963 quando o grupo lançou seu primeiro álbum. Era o início de uma carreira brilhante que literalmente mudou o rumo da música negra norte americana.

Curtis não destacava apenas pela sua habilidade como cantor ou instrumentista. Era um brilhante compositor, e naquela época a maioria dos cantores de soul não escreviam seu próprio material. Curtis escrevia, e suas palavras não cantavam apenas o amor. Ele cantou a dor, as dificuldades e os problemas enfrentados pelos negros na década de 60. Era a narração do cotidiano vivido pelo seu povo em meio uma sociedade preconceituosa e segregacionista.

Tudo bem, vamos entender a situação. Anos 60, Estados Unidos da América! A comunidade Afro-Americana indo as ruas reivindicando melhores condições de vida e respeito. Reivindicando o fim da segregação racial, lutando pelo voto, pelo direito de estudo. Muitas mortes, líderes calados, intolerância, racismo. Este era o cenário.


Foi nessa época que Curtis escreveu uma de suas obras-primas. A canção “People Get Ready”.

Essa música é basicamente uma “Gospel Song” mas que demonstrou a crescente preocupação social e política de Curtis. Se tornou um hino na luta pelo direitos civis nos Estados Unidos. Eleita por Martin Luther King como sua canção favorita. Não é preciso dizer mais nada. Ouça, e leia a letra com atenção.

Curtis iniciou sua carreira solo em 1970. A partir desse ponto outros artistas do soul incorporaram o discurso político em seus discos. Vale a pena citar o clássico de 1971 “What´s Going On” de Marvin Gaye, disco importantíssimo da história do soul. Além de “Innervisions” de Stevie Wonder, lançado um pouco depois, em 1973.

Nos anos 70 Curtis lançou vários discos, produziu muita gente e ainda fez trilhas sonoras brilhantes para filmes do gênero Blaxploitation. “Superfly” é um dos filmes que Curtis compôs a trilha. Incrível e genial. O álbum recebeu 4 indicações ao Grammy e vendeu 1 milhão de cópias.

Curtis também escreveu belíssimas canções de amor, como a sensível “So In Love” do disco “There´s no Place like America Today” título que ironiza a sociedade norte-americana já que a capa traz uma fila de negros em frente a um gigantesco outdoor onde figura uma sorridente família branca americana. Também em seu disco Live (1971) ele interpreta lindamente o clássico “We’ve Only Just Begun” eternizado pelos Carpenters. A canção ganha um diferente significado na voz de Curtis. E mesmo nas canções de protesto o que se destaca o tom de esperança que Curtis conseguia transmitir nas letras.

A década de 70 foi época de muito sucesso e extremamente produtiva, portanto minha dica é: procure por todos discos, ouça com atenção e leia as letras. Assim, Curtis cravou de vez seu nome na seleta lista dos gênios musicais do século 20.

Apesar de não repetir o sucesso comercial da década de 70, Curtis lançou alguns discos e continuou seus trabalhos como compositor e produtor nos anos 80.

Porém no dia 13 de agosto de 1990 Curtis fazia um show ao ar livre em Nova York quando parte do equipamento de luz se soltou e infelizmente o atingiu. O acidente o deixou tetraplégico, e poderia significar o fim de sua carreira. Mas não foi isso que veio a seguir.

Curtis ainda compôs material para seu último disco de estúdio “New World Order”. Ele também produziu e dirigiu as gravações do álbum. O disco foi lançado em 1997.

Recebeu também na década de 90 dois prêmios Grammy pela sua contribuição musical:

Em 1994: Grammy Legend Award

Em 1995: Grammy Lifetime Achiviement Award

Sua saúde foi se debilitando em virtude de sua paralisia e da diabetes. Em 1999 entrou para o Rock and Roll Hall of Fame, mas não pode comparecer a cerimônia em virtude da saúde frágil.

Curtis faleceu no dia 26 de Dezembro em 1999, aos 57 anos.

O mundo da música se despediu de um artista de enorme talento que cantou a beleza do amor, a esperança de um mundo melhor e transformou a injustiça social e a desigualdade em verdadeiras pérolas do soul cantadas diretamente para o seu povo.

Me despeço com um trecho da canção Choice of Colors, gravada pelo grupo “The Impressions”, em 1969:

“People must prove to the people
A better day is coming for you and for me
With just a little bit more education
And love for our nation
Would make a better society”






With Love, To Curtis...
 
http://www.youtube.com/watch?v=Fv8Rhiibix0
http://www.youtube.com/watch?v=4QglEbgON9o&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=t-l91O9VxN0
 
Por Lucas Arruda.
Um ótimo Café!
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário