Quando eu nasci, o meu anjo da guarda professou a seguinte frase: Ela será fresca!
Só pode ter sido isso que aconteceu. Se bem que não sou fresca ao extremo, pois muitas coisas eu tolero bem. E foi usando esse meu lado “não fresco” e a minha enorme curiosidade que eu, minha irmã e algumas amigas marcamos de ir a um restaurante de comida japonesa. Tava na cara que isso não ia dar certo, mas é sempre tão bonito ver, na televisão, as pessoas indo aos restaurantes
japoneses e comendo de rachi!
No dia combinado, ao chegarmos lá, eu logo pensei: “Hum... Isso aqui tem cheiro de peixaria extremamente limpa...” O ambiente é bem interessante, com lustres, mesas, garçons a caráter e coisa e tal, mas o que me deixou realmente incomodada foi a luz, ou melhor: a falta dela. Aquilo lá tá mais pra penumbra. Fiquei bastante constrangida, pois o clima estava mais pra casalzinho apaixonado e nós estávamos desacompanhadas. Assim que o momento sem graça passou, eu fiquei foi com medo. O que será que essa falta de luz estava tentando esconder? Enquanto me livrava desse pensamento, nos acomodamos.
O sushiman trouxe o cardápio e, quando olhei aquele monte de nomes, minha vontade foi de
perguntar: tem com legenda em português? Nossa sorte foi a minha experiente irmã mais nova, que morou por dois anos em São Paulo e visitou vários desses restaurantes. Pedido feito e uma ansiedade quase palpável.
Uma coisa não dá pra negar: nem em fast food a comida fica pronta tão rápido. Também, eles não usam fogo... Entre fotos, conversas, risos e treinamento para aprendermos usar o rachi, levanto
os olhos e vejo o sushiman vindo com um barquinho na mão. Como assim? Nós vamos comer ou fazer uma oferenda pra Iemanjá? Barquinho na mesa e eu, no auge da minha habilidade de comer
com “pauzinhos” adquirida em cinco minutos de treinamento intensivo, pego um rolinho de arroz colado, envolvido num troço verde e com um pedaço de “não sei o que” no meio, passo pelo doce e
cremoso molho shoyo e corajosamente o levo à boca. Não foi tão difícil de engolir, já que tomei um bom gole de cocacola em seguida.
Não deu tempo de o meu paladar definir o que sentiu, porque foi um momento muito rápido.
O pior desse momento foi olhar pros lados e ver como as pessoas comem isso com uma boca tão boa. Pra não perder o hábito, pensei: “Acho que sou um ET!”
Pra acabar de vez com essa má impressão, decidi comer o tão famoso sashimi, muito
conhecido também como peixe cru. Metida que sou, fui logo no salmão, o mais caro, o cor de rosa. Só não sei por que escolhi esse; logo eu, que sempre odiei rosa. Deve ser porque não havia um peixe azul. Sem perder a pose, pego um generoso pedaço de peixe, molho no shoyo e levo à boca. Acho que nada do que eu disser/escrever daqui pra frente vai conseguir ser fiel àquilo que senti. Foi uma mistura de nojo, pânico, medo, desespero, vergonha e sei lá mais o quê. Só consigo imaginar uma maneira de explicar a sensação que tive. Sabe baiacu, aquele peixe que quando está em perigo vai inflando, inflando e finge de morto pra escapar? Pois é! Foi um desespero ter a certeza de que isso era o que estava acontecendo dentro da minha boca.
O pânico aumentou a níveis inimagináveis quando percebi minha amiga tentando deixar esse momento humilhante da minha vida registrado nos vídeos do seu celular. É melhor mesmo que tenha
apenas registros de memória, e, se Deus quiser, daqui uns anos, a falta dela.
Não dava pra engolir o “baiacu gigante” que estava na minha boca! Num ato de pura sobrevivência, peguei um guardanapo e literalmente cuspi o danado. Alívio total! Tanto pra mim, quanto pro peixe. Tenho certeza de que foi o pior dia de nossas vidas. Minha vontade naquela hora era de chamar o sushiman e perguntar: “Já ouviu falar em picanha bem passada?”
Agora já sei o que responder quando me convidarem para ir num restaurante japonês: “Não,
obrigada, prefiro um tratamento de canal.” Aproveito pra deixar registrada minha admiração por aqueles que gostam da culinária japonesa. Parabéns pela coragem e pelo estômago de avestruz! Porém, serei eternamente grata aos nossos antepassados, os homens das cavernas. A eles, toda minha gratidão e todo meu respeito. Penso em, futuramente, tatuar em mim a seguinte frase: “Obrigada, Senhor, pela descoberta do fogo!”
Por Kelly Elizeu
apesar do trauma, esse dia foi muito divertido!
ResponderExcluire eu achando que isso era coisa da sua cabeça. AHSISHIHDIAS
ResponderExcluirExcelente texto! Passei por uma experiência exatamente igual. Eu e minha namorada, pedimos a essa tal barca, veio todo bonita e pomposa. Experimentei ( ou pelo menos tentei experimentar ), dois pedaços. Primeiro comi um sem o molho, não gostei. Depois pensei: po, esse molho não está aqui a toa. Peguei um pedação de salmão, dei a molhada e coloquei na boca. No que eu coloquei eu não consegui mais mexer minha boca, não mastigava nem engolia nem nada. A textura daquilo dentro da minha boca só mandava a seguinte mensagem para o cérebro: cospe, cospe, cospe!!! Não deu outra, fiz igual a você, peguei um guardanapo e cospi fora. Naquele momento olhei pra minha namorada e ela também não tinha gostado nada dessa experiência. Naquele momento eu pedi a conta, e adivinhe pra onde fomos logo quando saimos dali? Direto pra uma churrascaria. E detalhe: na churrascaria eu gastei 3 vezes menos do que a tal barca. Picanha rulez! hahaha...
ResponderExcluirhahahaha que coincidência!
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